Nos dias 5 e 6 de novembro eu e meu amigo André Schetino, do site Até Onde deu Pra ir de Bicicleta, vamos promover um curso de cicloturismo. Serão oito horas de conteúdo teórico e seis horas de prática, em um belo pedal por Floripa. Nós vamos repassar conhecimento e trocar ideias sobre condicionamento físico e preparação de uma cicloviagem autônoma.
Módulo 1 – 4h: Preparando a sua primeira viagem autônoma de bike
Palestrante: Fábio Almeida (Pedal Nativo)
Quanto investir em uma bicicleta?
A importância do conforto ao pedalar.
Opções para carregar a bagagem.
Que outros equipamentos não necessários?
Opções de hospedagem.
Dicas de passeios para ganhar experiência aos poucos.
Formas de navegação.
Circuitos de cicloturismo no Brasil.
Módulo 2 – 4h: Treinamento para cicloviagens
Palestrante: André Schetino (Até Onde Deu pra Ir de Bicicleta)
Por quê treinar para se divertir em uma cicloviagem?
Os princípios do treinamento aplicados ao cicloturismo;
Como se preparar físicamente para uma cicloviagem;
Pedalando longas distâncias;
Pedalando com a bicicleta carregada.
Domingo, 6 de novembro
Pedal por Floripa – 6h
Serão aproximadamente 60km, passando por diferentes cenários da ilha. Da tranquila estradinha de terra ligando a Vargem Grande ao Rio Vermelho ao agito da Lagoa da Conceição. Dos retões de Moçambique às curvas e cenários de Santo Antônio de Lisboa. O ritmo será de passeio, com duas paradas programadas: na praia de Moçambique, para fotos e possível banho, e na Lagoa da Conceição, para um lanche.
Cicloturismo, escalada, trekking e outras atividades ao ar livre funcionaram como imãs para quase 90 pessoas, que foram até Socorro, no interior de São Paulo, participar do Vivência Outdoor. Foram dois dias de muito aprendizado e troca de experiências de quem não sentiu falta alguma de TV ou shopping durante o fim de semana que passaram. Com todos – público e organizadores – acampando, foram realizadas palestras e oficinas com blogueiros e convidados. Estive lá como único “representante” dos cicloturistas e passei um pouco da magia que é viajar de bicicleta e dar dicas de como começar na prática. E, entre o público, apareceu de tudo: de ciclistas aventureiros da Serra da Mantiqueira a um casal que está planejando sua primeira viagem para a Patagônia.
Na correria da organização, ainda pude aprender sobre temas que há muito me interessavam, como bivaque, acampamento em rede e a tecnologia dos sacos de dormir. Nada como ter especialistas dispostos a compartilhar informações. Uma troca muito bacana.
Esfriou pra valer em grande parte do Brasil neste começo de junho, mas isso não me impede de manter a rotina de pedaladas. Ao longo dos anos como ciclista fui acumulando experiências e conhecimento que me permitem pedalar em situações até zero grau com algum conforto. Compartilho abaixo algumas delas, sempre ressaltando que continuo aprendendo e que há outras opções além das citadas.
Camadas – Talvez a dica mais importante para quem quer pedalar com baixas temperaturas seja o conceito de camadas:
A primeira é a vestimenta que estará em contato com a pele, cuja função é transferir a umidade do suor pra fora, mantendo o corpo o mais seco possível. Esta capa deve ser de tecido de rápida secagem. Os materiais mais utilizados são o polipropileno e poliéster.
A segunda é a responsável de manter o calor corporal. Existem vários tipos de tecido. O mais comum é o fleece, que também é chamado de pile. Atualmente é possível encontrar uma grande variedade de tecidos e composições, que entre si, são altamente diferentes no quesito aquecimento e resistência a vento.
A terceira camada serve para proteger contra o vento e água. Pode ser confeccionada com diversos tipos de materiais e, além de servir como barreira para elementos externos, deve permitir a saída do vapor da transpiração (ser “respirável”). Não é uma peça barata, mas vale a pena investir em uma que tenha todas estas funções.
Montei o meu kit de três camadas com peças compradas na Decathlon. Pesquisando bem dá pra encontrar peças eficientes e com preço menor que as de grife.
Calça – Calças de ciclismo são essenciais nestas situações. Justas, elas melhoram a circulação sanguínea e ajudam a manter as pernas quentes durante as paradas. Até cerca de 10 graus elas resolvem a situação. Abaixo disso, a dica vestir uma calça sintética por cima, barrando o vento.
Uso há sete anos uma calça da Curtlo e recomendo. É bem resistente e tem bolsos laterais. Há, no entanto, diversas opções no mercado que não experimentei.
Calçado – Utilizo uma sapatilha da Shimano que funciona bem até cerca de 10 graus. Abaixo disso pode ser utilizada uma polaina de material sintético, que proteja contra o vento gelado.
Tenho uma polaina impermeável fabricada pela Alpamayo, de Curitiba. Não é perfeita, mas tem me atendido tanto na chuva quanto no frio.
Luva – Esqueça as de dedos curtos. Frio pede luvas com dedos fechados e costuras bem feitas. Como as mãos se movem pouco e ficam na extremidade do corpo, vale investir em uma de qualidade contra o frio. Agora, sobre luvas impermeáveis, nestes anos encontrei apenas um viajante que garantiu que sai luva aguentou chuva. Foi há uns três anos e acabei não guardando a marca. Enquanto isso, uso uma luva de silicone por baixo da luva normal. Apesar de não proteger do frio, mantém a mão bem seca. Se tiveres alguma experiência, compartilhe conosco.
Nos dias mais frios o que faço é usar a minha luva de moto. Apesar de ser um pouco grosseira, diminuindo a sensibilidade nas freadas, esquenta mais as mãos.
Cachecol – Pescoços gelados inflamam e incomodam. Abaixo dos 10 graus, vale usar. Pode ser um simples, de tricô.
Uso um feito pela minha madrinha. Puro amor <3.
Outras dicas:
Procure manter o ritmo durante as pedaladas, evitando muitas paradas. Escolha uma marcha que permita um giro uma cadência um pouco mais acelerada.
Leve e beba água durante a pedalada. Mesmo com o frio nosso corpo sente sede e precisa ser hidratado.
Se possível, leve uma muda adicional da primeira camada de roupa. Você poderá precisar dela após subir um morro ou enfrentar um trecho que te faça suar. Basta trocar esta peça e seguir seco e aquecido.
Mountain bike adaptada: a solução mais comum no Brasil
A escolha da bicicleta ideal para cicloturismo não é uma decisão simples. É preciso considerar fatores como o terreno a ser percorrido, o tipo de assistência mecânica que estará disponível, a quantidade de bagagem que será carregada, entre outros fatores. Isso sem falar na experiência pessoal e nas preferências do ciclista. Há várias possibilidades de solução, e nenhuma delas pode ser apontada como a melhor para todos. Uma opção é adaptar a super comum mountain bike para receber bagagem e percorrer longas distâncias. Outra é montar uma bike econômica, peça a peça. Pode-se, também,comprar uma touring bike americana ou européia, com furação para bagageiros dianteiros e traseiros e dínamos embutidos nos cubos de roda, como a Specialized AWOL. Há ainda uma nova opção que está surgindo no Brasil.
Dois fabricantes locais desenvolveram e já comercializam bicicletas específicas para cicloturismo. Em comum, ambas têm rodas 26″ e freios v-brake, defendidos pelos fabricantes pela facilidade de manutenção e substituição de componentes. Não são modelos baratos, ambos custam cerca de R$ 5 mil, mas que se tornam interessantes pelas suas fichas técnicas e desenvolvimento específico.
Mountain Touring, da Mundo Cicloturismo
O primeiro modelo apresentado foi a Mountain Touring, desenvolvida pela Mundo Cicloturismo. A princípio, trata-se de mais uma bike de alumínio, com suspensão dianteira, 27 marchas, rodas 26″ e freios v-brake. Mas o fabricante chama a atenção para as particularidades de sua configuração. “Desde as peças importantes como quadro e relação, passando pelas peças “invisíveis”, como caixa de direção e movimento central, até os detalhes como manoplas e bar-ends. Também incluímos no projeto todos os acessórios que consideramos essenciais para o cicloturista, como paralamas, bagageiro e retrovisor. Todas peças de qualidade, marcas boas e testadas por nós”, afirma na descrição do modelo.
Robustus, da Braunii
Já a Robustus, da Braunii, aposta em um material relativamente raro no mercado brasileiro atual: o aço cromo-molibidenio (ou cromoly). Muito comum nas mountain bikes das décadas de 1990, este material praticamente desapareceu do Brasil após a introdução dos quadros de alumínio. Seus defensores, no entanto, ressaltam sua melhor absorção de vibrações e a maior facilidade de realizar soldas, em comparação ao alumínio. “Os tubos do triângulo principal e do garfo tem espessura variável para ser forte onde precisa e ao mesmo tempo leve”. O fabricante destaca ainda o recuo da roda traseira em relação ao movimento central. “O chain stay longo fornece conforto para o ciclista e espaço para bagagem sem interferir na pedalada”, afirma a Braunii.
A minha viagem para o Circuito das Araucárias foi preparada com uma boa antecedência. Foram meses pensando em roteiro e procurando e atualizando os equipamentos. Como resultado, levei o que considero uma bagagem que me permitiria viajar por mais tempo e levando a menor quantidade possível de peso. Isso, claro, dentro de minhas limitações orçamentárias.
De volta do circuito, resolvi fazer um inventário de tudo que foi levado. Para ter tudo anotado e facilitar a composição das bagagens para as próximas. E é esta lista que compartilho abaixo com os colegas. A título de informação, foi tudo acondicionado em um par de alforges com 20l cada, um saco estanque de 40l e uma bolsa de guidão de 7l.
Vinha bem empolgado com a moda de bikepacking que tomou conta dos EUA. A tentação de ter uma bike mais na mão, com a bagagem mais concentrada, é muito grande.
O negócio está tão forte que esta semana a Ortlieb entrou na moda e lançou sua linha de bikepacking. Só que olhando as peças me surgiu uma questão.
Para estes “pacotes” carregarem um volume razoável de carga eles ficam muito grandes e devem balançar bem em uma pedalada fora do asfalto. Em especial o que se prende no canote do selim. Acredito que até mais que um alforge como os da própria Ortlieb.