Se para alguns cicloturistas a cama de um hotel é algo indispensável em uma viagem, para outros a estrutura de uma barraca limita o contato com a natureza. Com a rede é possível se instalar no meio da mata e dormir observando o céu. De quebra, o cicloturista ainda ganha uma redução no peso e no volume que carrega em seus alforges.
Mas e se estiver frio? E se chover? E se não houver onde amarrar a rede? E os alforges, onde ficam? Para responder estas e outras perguntas, e saber um pouco mais sobre a história desta invenção indígena, conversamos com Alexandre Palmieri, fundador da Kampa, o fabricante brasileiro de redes de aventura. E é este bate-papo que marca o primeiro podcast do Pedal Nativo. Ainda não criamos as vinhetas, mas o conteúdo é de primeira. Então, arrume um lugar tranquilo e curta a conversa. E lembre-se de comentar abaixo o que achou, ok?
Cicloturismo, escalada, trekking e outras atividades ao ar livre funcionaram como imãs para quase 90 pessoas, que foram até Socorro, no interior de São Paulo, participar do Vivência Outdoor. Foram dois dias de muito aprendizado e troca de experiências de quem não sentiu falta alguma de TV ou shopping durante o fim de semana que passaram. Com todos – público e organizadores – acampando, foram realizadas palestras e oficinas com blogueiros e convidados. Estive lá como único “representante” dos cicloturistas e passei um pouco da magia que é viajar de bicicleta e dar dicas de como começar na prática. E, entre o público, apareceu de tudo: de ciclistas aventureiros da Serra da Mantiqueira a um casal que está planejando sua primeira viagem para a Patagônia.
Na correria da organização, ainda pude aprender sobre temas que há muito me interessavam, como bivaque, acampamento em rede e a tecnologia dos sacos de dormir. Nada como ter especialistas dispostos a compartilhar informações. Uma troca muito bacana.
Uma parte pouco falada das viagens de bike são as dores experimentadas pelos ciclistas. Porém, conversando aqui e ali ouvimos diversos casos de dores nas costas, nos punhos, no pescoço e nos joelhos. Na maioria das vezes estes desconfortos são vistos como “consequências naturais” do exercício prolongado, da idade avançada ou mesmo de problemas genéticos do ciclista.
Eu mesmo já sofri com dores nas costas e na nuca por muito tempo. Já gastei um bom dinheiro com mesas, guidons e selins, tentando adaptar minha bicicleta às teorias que eu lia sobre a posição correta para pedalar. E o pior, sem resultados efetivos. Já tinha ouvido falar em bike fit, mas achava que seria um desperdício de dinheiro. Afinal, eu já “sabia” toda a teoria e tinha também experimentado um dos muitos bike fit virtuais que se encontra na internet.
Mas, como iria enfrentar uma viagem dura pela frente, resolvi tomar coragem e buscar ajuda de um profissional. A diferença eu já percebi no começo, ao ter analisado, além das minhas medidas, o meu alongamento. Também me foi perguntado sobre dores, desconfortos e o meu objetivo ao pedalar, se era desempenho, passeio ou cicloturismo. Só depois partimos para a análise da geometria da bicicleta, que deve se adaptar às questões levantadas na primeira parte. Confira todas as etapas do bike fit.
Segundo Júlio Fernandes, do Bike Fit Floripa, entre os benefício esperados estão a redução das dores articulares e musculares e o melhor aproveitamento da força, potência e resistência muscular aplicada na pedalada.
Júlio Fernandes
E assim foi. Descobri que o selim novo, comprado há pouco mais de um mês, não era uma boa para mim. Acabei voltando para um que estava em outra bike. Descobri também que nem sempre é bom prender o taquinho da sapatilha sob junção dos metatarsos com as falanges e acabamos deslocando o apoio do pedal um pouco em direção ao meio do pé. Foi alterada também a altura e a inclinação do guidão, o recuo do selim e a inclinação do bar-end. Tudo isso com um grande teste em alguns dias: o Circuito das Araucárias com a bike carregada.
A proximidade do desafio não permitiu que eu fizesse uma etapa fundamental do processo antes da viagem: o ajuste fino posterior. “Após o bike fit, o ciclista pedala por alguns dias e caso necessário é realizado ajustes finos para uma perfeita harmonia entre o ciclista e a bicicleta”, destaca Fernandes.
Foto: Antônio Heil
O resultado? As mudanças permitiram que eu me concentrasse no visual, na navegação e em outras coisas bacanas. Meu joelho direito, que já me impediu de concluir uma viagem de quatro dias devido a sua inflamação, aguentou os sete dias de pedalada sem se manifestar. Com a mesma bicicleta. Enfim, recomendo fortemente que se faça um bike fit de preferência mesmo antes de comprar sua nova bicicleta. Evita dores e desperdício de dinheiro, além de aumentar o prazer da cicloviagem.
A minha viagem para o Circuito das Araucárias foi preparada com uma boa antecedência. Foram meses pensando em roteiro e procurando e atualizando os equipamentos. Como resultado, levei o que considero uma bagagem que me permitiria viajar por mais tempo e levando a menor quantidade possível de peso. Isso, claro, dentro de minhas limitações orçamentárias.
De volta do circuito, resolvi fazer um inventário de tudo que foi levado. Para ter tudo anotado e facilitar a composição das bagagens para as próximas. E é esta lista que compartilho abaixo com os colegas. A título de informação, foi tudo acondicionado em um par de alforges com 20l cada, um saco estanque de 40l e uma bolsa de guidão de 7l.
As horas passadas sobre o selim da bicicleta nos trazem grande revelações sobre nós mesmos e o mundo em que vivemos. Mas nem sempre é assim. Por vezes, nos distraímos com cada bobagem que falta até coragem para admitir depois. Pra mim, muitas vezes, o que faz o tempo passar é a criação de equações com os números que vejo pela estrada. Vale qualquer operação com os números que ví, contanto que o resultado seja o último avistado. E você, qual o pensamento banal que te distrai nas horas menos inspiradas? Para ver que não estamos sós, seguem aí duas passagens, digamos, menos nobres de grande viajantes.
“Nesse primeiro dia de pedal, criei um jogo para me distrair: eu brincava de avaliar as sensações e as particularidades do dia dividindo-as entre “boas” e “ruins” conforme minha perspectiva egocêntrica. Nada muito sofisticado. Eu simplesmente resumia o mundo ao dualismo básico de “bom” e “ruim”, luz e escuridão, Deus e o diabo, como se a realidade respeitasse esse maniqueísmo rudimentar. […] Nessa brincadeira pseudofilosófica de enxergar tudo como reflexos simétricos de um espelho ilusório, o tempo passou e depois de horas entretido comigo mesmo, cheguei ao topo do paso Garibaldi e parei no mirante para o Lago Escondido.”
Guilherme Cavallari – Transpatagônia – pag 253.
“Muitas vezes me perguntam no que eu pensava enquanto pedalava. […] Sempre fico pensativo com esta pergunta. Lembro-me das vezes que olhava para baixo e via duas pernas, duas rodas e quatro alforges. O que exatamente penso quando estou pedalando? Não faço ideia.”
Estamos fazendo uma pesquisa com cicloturistas que visitam este endereço. O objetivo é conhecer os viajantes brasileiros e melhorar o nosso blog. Você poderia dedicar uns minutos de seu tempo para responder às perguntas?
Há mais de 30 anos ciclistas do estado americano de Iowa realizam a abertura da temporada de ciclismo em fevereiro, pleno inverno no hemisfério Norte. Na edição deste ano, realizada no dia 06, mais de 1.500 ciclistas pedalam 38 quilômetros para espantar o frio e mandar o inverno embora. Como recompensa, chocolate quente, cerveja e batata assada.
Um deserto de sal é ambiente mais que propício para reflexões. Inspirado por sua passagem no Salar de Uyuni, o cicloturista André Fatini fez uma bela interpretação da música Society, de Eddie Vedder. A canção é conhecida por compor a trilha sonora do filme Into The Wild e fala dos questionamentos do personagem principal sobre os valores da sociedade.
Sociedade
É um mistério para mim
Nós temos uma ambição que concordamos
E você pensa que você tem que querer mais do que precisa
Até você ter tudo, você não estará livre
Sociedade, sua raça louca
Espero que não esteja solitária sem mim
Quando você quer mais do que tem
Você pensa que precisa
E quando você pensa mais do que você quer
Seus pensamentos começam a sangrar
Acho que preciso encontrar um lugar maior
Pois quando você tem mais do que imagina
Você precisa de mais espaço
Sociedade, sua raça louca
Espero que não esteja solitária sem mim
Sociedade, realmente louca
Espero que não esteja solitária sem mim
Tem aqueles achando, mais ou menos, que menos é mais
Mas se menos é mais, como você mantém um placar?
Quer dizer que pra cada ponto que faz, seu nível cai
É como começar do topo
Você não pode fazer isso
Sociedade, sua raça louca
Espero que não esteja solitária sem mim
Sociedade, realmente louca
Espero que não esteja solitária sem mim
Sociedade, tenha piedade de mim
Espero que não fique brava se eu discordar
Sociedade, realmente louca
Espero que não esteja solitária sem mim.
“A atividade vem crescendo de maneira muito forte no Estado, mas nós sentimos que atingimos um limite. E para superarmos este limite, vamos precisar de dois tipos de integração. A primeira é a integração das gestões, da administração dos circuitos, e a segunda é a integração física, criando um grande roteiro de cicloturismo, que contemple todos os circuitos do Estado, de forma organizada e com fácil acesso”, defendeu Carlos Beppler, do circuito Costa Verde & Mar.
Para Jonatha Jünge, sócio da Caminhos do Sertão Cicloturismo, o mercado cresceu e se profissionalizou muito desde a fundação da empresa, em 2004. Ele acredita que o caminho para que os circuitos continuem crescendo passa pela melhor capacitação da oferta do serviço local. Isso permitiria ao ciclista não-autonomo contratar serviços diretamente nas localidades por onde passa o roteiro, fortalecendo a economia regional.
Entre os encaminhamentos do encontro estão a criação de um site com informações de todos os roteiros, a padronização da sinalização dos circuitos e o contato com a Secretaria de Estado do Turismo e o Ministério do Turismo solicitando apoio para capacitações e desenvolvimento de políticas de apoio ao modal. Como exemplo de integração, foi lembrado pelos participantes o caso da Suíça, que oferece em seu site oficial de turismo informações sobre 9.000 Km de roteiros de cicloturismo, com grande estrutura de atendimento local.
Rodrigo Telles, do Clube de Cicloturismo do Brasil, lembrou que o pioneirismo de Santa Catarina na estruturação de roteiros, com o lançamento do Circuito Vale Europeu em 2006, só foi possível devido a criação de consórcios entre as cidades. “Os municípios perceberam que é muito mais fácil atrair turistas para a região do que ficar disputando com o município ao lado”, afirmou o diretor da entidade que foi a responsável técnica pela criação dos quatro circuitos representados no evento.
Na opinião de André Geraldo Soares, da União de Ciclistas do Brasil, a melhoria da infraestrutura de mobilidade urbana pode facilitar o desenvolvimento do cicloturismo de duas formas: integrando os centros das cidades aos roteiros, o que amplia a variedade de atrações, e criando uma nova geração de ciclistas, o que se refletirá no número de futuros cicloturistas.
Durante o evento foi apresentada ainda a Liga Independente de Cicloturismo, que une grupos de ciclistas das cidades de Caçador, Campos Novos, Capinzal, Concórdia, Curitibanos, Fraiburgo, Herval do Oeste, Joaçaba, Lages, Luzerna, Ouro, Treze Tílias e Videira. A entidade tem um calendário anual com eventos em todos os municípios, chegando a reunir centenas de ciclistas em um fim de semana.